Ao completar 75 anos de criação, a diocese de Mossoró instalará a sua faculdade credenciada, oferecendo um curso superior de teologia. Fato digno de nota, no momento em que Bento XVI proclamou o Ano Sacerdotal e a Igreja do Brasil comemora o Ano Catequético. Um curso de teologia tudo tem a ver com estas comemorações. A catequese e o ministério sacerdotal pressupõem uma sólida base teológica. Com essa instituição de ensino, a diocese de Santa Luzia pretende estabelecer um espaço de reflexão, tendo como ponto de partida o pensar teológico. Colocada entre as áreas de saber científico, a teologia se fortalecerá dentro da academia para melhor interpretar a fé e abordar, de modo mais concreto, os problemas de uma sociedade pluralista e as raízes de nossa cultura, marcada por elementos religiosos.A teologia como curso acadêmico, oferecido por instituições credenciadas, é recente na história da educação brasileira. Nos períodos colonial e imperial, gozava do status de curso superior e oficial, mesmo não fazendo parte da academia. Após a proclamação da República e a separação da Igreja e do Estado, passou a ser ensinada nos seminários e casas de formação religiosa, como curso livre. Como efeito dessa cisão, a teologia vai pouco a pouco se tornando clericalizada. Assim, durante mais de um século, ciência e teologia se distanciaram numa negação mútua de suas epistemes, de seus métodos e também de seus resultados. No entanto, desde quando surgiu, na virada do século XII, a universidade se tornou o lugar natural da teologia. A academia é uma criação medieval e sucessora de escolas vinculadas a mosteiros e catedrais. Para alguns estudiosos, a universidade é uma nova configuração escolar, que se rompeu e se tornou independente dos ciclos de ensino ministrados pela Igreja. No Brasil, entretanto, com o advento das universidades católicas, houve uma preocupação com o ensino da teologia dentro dos espaços acadêmicos. A primeira instituição a ministrar um curso teológico em moldes acadêmicos foi a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, quando o Conselho Universitário criou o bacharelado em teologia, pela Resolução 127/67.No decorrer de 110 anos, desde a proclamação da República até março de 1999, houve tentativas de oficializar os cursos de teologia. O esforço mais significativo foi a solução oferecida pelo Decreto-Lei 1051/69, revogado pela Lei 9394/96. Por aquele diploma legal, os egressos de seminários poderiam se matricular em cursos de licenciatura, solicitar aproveitamento de créditos obtidos em conventos ou seminários e complementar as disciplinas para obtenção do grau de licenciado. Há de se considerar o relacionamento da Igreja e do Estado brasileiro durante o regime militar. O citado decreto foi editado em um dos momentos mais tensos da relação entre as duas instituições e por isso não houve um interesse latente por parte do episcopado em pleitear a oficialização dos cursos teológicos. A normalidade democrática voltou e com ela os sonhos de incluir a teologia dentro da academia. Ao coro das instituições católicas somaram-se as vozes evangélicas, clamando por um status acadêmico para os cursos teológicos no Brasil. Os interessados reivindicavam, pois não havia motivos para deixar a teologia de fora dos círculos acadêmicos.Cabe lembrar que Darcy Ribeiro incluía no projeto original da Universidade de Brasília um instituto de teologia a ser confiado à Ordem Dominicana. É importante salientar que a Igreja muito tem a ganhar com o aprendizado de uma teologia com maior rigor acadêmico, voltada não apenas para aspectos pragmáticos de ordem pastoral e apologética. Uma teologia acadêmica facilita e muito a interpretação das raízes antropológicas e culturais brasileiras, onde também se ancora o navio de nossa fé. A teologia não deve ficar restrita aos seminários e conventos e sim fortalecer o diálogo com a sociedade dentro do espaço privilegiado da academia. João Paulo II, em sua Constituição Apostólica sobre as universidades católicas, exalta a missão da teologia e sua importância na academia. Relevem-se ainda não só o ensino acadêmico da nova faculdade diocesana de Mossoró, mas igualmente o papel da pesquisa e da extensão, meios eficazes para reflexão do sentido do saber humano em favor da promoção da justiça social e da fraternidade entre os homens.
Pe. João Medeiros Filho
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