Mais tarde quando a criança nasceu ele a pegou, alimentou-a, cuidou dela, dando afeto e carinho como se o filho fosse realmente dele. Cerca de dois anos depois, a mãe, vencida pelo remorso, confessou que o pai da criança não era o mestre, mas um jovem da aldeia. Com essa revelação os moradores se sentiram envergonhados e, mais uma vez, encabeçados pelos familiares da jovem, subiram o monte. Esta vez foi para pedir desculpa com longas declarações de arrependimento por ter maculado o nome dele. - Ah, é assim? - foi só o que o mestre respondeu.
Homem de poucas palavras, o mestre da história. Todos nós bem sabemos: há silêncios que falam mais do que as palavras. Há palavras com sentido e outras inúteis e vazias. Há palavras que matam e palavras que elevam o espírito, dão ânimo e vida. Há palavras que constroem amizades e outras que afastam até os irmãos. Há palavras que gostaríamos de poder esquecer, arrependidos por tê-las ditas, ou entristecidos por tê-las ouvidas; e outras que guardamos e repetimos para que fiquem para sempre na nossa memória.
O que dizer das palavras de Jesus? Ainda hoje os estudiosos discutem sobre as possíveis palavras originais de Jesus. Para isso existem critérios e avaliações. O que mais interessa para nós, porém, é que as palavras ditas por ele passaram pela vivência dos primeiros cristãos até serem escritas nos evangelhos. Podemos acreditar que de todas as palavras ficaram não só aquelas que o Espírito Santo inspirou para que nunca mais fossem esquecidas, mas também as que a vida das comunidades experimentou serem decisivas para resguardar a própria identidade de seguidores do Senhor. Portanto as palavras que nos foram transmitidas pelos evangelhos não são somente um relato mais ou menos fiel das primeiras palavras de Jesus. Elas são sobretudo uma maneira de viver o próprio relacionamento com Deus e com os irmãos. São palavras de vida e sobre a vida para quem as acolhe com fé.
As palavras de Jesus, ainda hoje, continuam circulando nas comunidades dos seus amigos. São lidas e relidas, explicadas, meditadas, rezadas: ainda falam à inteligência e ao coração dos que buscam encontrar o Deus vivo que Jesus quis nos fazer conhecer. A ação do Espírito Santo, que deu a "inspiração" aos evangelistas e às suas comunidades, continua a "inspirar" também a compreensão das palavras de Jesus. Como em uma obra de arte, uma pintura, uma escultura, uma música ou uma canção: o tempo passa, mas os sentimentos que inspiraram o que o artista se esforçou para transmitir, renovam-se no coração dos que contemplam ou escutam aquela obra. Se os "efeitos" de uma verdadeira "obra prima" chegaram até nós e ainda nos tocam, nos comovem e nos envolvem, por que não acreditar na força do Espírito Santo que, como Jesus prometeu, deverá nos lembrar para sempre tudo o que ele mesmo ensinou?
É por causa de tudo isso que Jesus também pode afirmar que ele, o Pai e o Espírito Santo irão "morar", isto é, estar juntos e se tornar familiares, na vida dos que ouvirem, guardarem e praticarem as suas palavras. São palavras vivas, atuais, de um Deus vivo que continua a falar para quem quer dar um sentido mais pleno à sua vida.
Para sermos cristãos melhores, deveríamos escutar mais a Palavra de Deus, deixar falar mais Aquele que nos ama, mais do que todos. Estamos enchendo o mundo e a nossa vida de sons e palavras que servem mais ao nosso orgulho do que à verdade; de opiniões que nos fazem sentir mais importantes do que realmente somos. Parece que estamos disputando com Deus, na ilusão de termos a "última palavra". Talvez seja o caso de dizer como o mestre da historia: - Ah, é assim? - E praticar mais essa bendita Palavra.
Dom Pedro José Conti