“O dom do Espírito torna atual e possível para todos o antigo mandato de Deus ao seu povo: «Sede santos, porque Eu, Javé, o vosso Deus, sou santo» (Lv 19, 2). Tornar-se santo parece uma meta árdua, reservada a pessoas inteiramente excepcionais, ou adequada a quem quer permanecer estranho à vida e à cultura da própria época.
Pelo contrário, tornar-se santo é um dom e uma tarefa, arraigados no Batismo e na Confirmação, confiados a todos na Igreja e em todos os tempos. É dom e tarefa tanto dos leigos como dos religiosos e dos ministros sagrados, quer no setor particular quer no empenhamento público, na vida tanto das pessoas como das famílias e das comunidades.
Todavia, no interior desta vocação comum que chama todos a conformar-se não ao mundo mas à vontade de Deus (Rm 12, 2), diversos são os estados de vida e multíplices são as vocações e as missões” (João Paulo II – XIII Dia Mundial da Juventude – 1998).
1. Na Igreja há muitas vocações. Essas muitas vocações costumam ser divididas de diversos modos e apresentadas de maneiras diferentes.
Aqui iremos simplificar o “panorama” ou o “quadro geral” das vocações , dizendo que: na Igreja há quatro grandes vocações que se sobressaem e se distinguem de modo especial.
Essas quatro vocações são:
1. a vocação laical (dos cristãos leigos)
2. a vocação aos ministérios ordenados (dos bispos, padres e diáconos)
3. a vocação religiosa (irmãs ou freiras e irmãos religiosos)
4. a vocação missionária (leigos, ministros ordenados ou religiosos e religiosas).
2. De que modo as quatro grandes vocações se distinguem umas das outras? As quatro grandes vocações na Igreja se distinguem umas das outras pela sua “função” ou “funcionalidade”, ou “tipo de serviço” a ser feito em favor da comunidade.
a) A vocação laical:
É a vocação dos “leigos” na Igreja.
A função ou funcionalidade da vocação laical está ligada e relacionada com as coisas desse mundo, com as coisas temporais, com as coisas dessa terra, com as coisas que passam.
O Concílio Vaticano II exprime esta função própria da vocação laical com as palavras “índole secular”. “Índole” que significa: marca, característica, distintivo. “Secular”, que significa: aquilo que é deste mundo, aquilo que pertence ao mundo das criaturas terrenas, aquilo que é temporal, passageiro, que não é eterno.
Assim, aquilo que distingue e é próprio da vocação do leigo são as coisas deste mundo, as coisas terrenas, as coisas temporais, as coisas que passam. E a vocação própria do leigo, isto é, sua função ou funcionalidade é a de “santificar” estas coisas temporais, passageiras, deste mundo terreno.
b) A vocação aos ministérios ordenados:
É a vocação dos bispos, padres e diáconos.
É próprio dessa vocação o “ministério sagrado”. E esse ministério sagrado consiste em três serviços:
. o serviço da pregação da Palavra de Deus (ser profeta);
. o serviço da santificação, sobretudo através dos sacramentos (ser sacerdote, no sentido próprio da palavra);
. o serviço do pastoreio, sobretudo organizando, animando e conduzindo a comunidade eclesial (ser pastor).
c) A vocação religiosa:
É a vocação das religiosas (irmãs ou freiras) e dos religiosos (cristãos ou sacerdotes consagrados em congregações religiosas).
As religiosas e os religiosos já tinham sido consagrados a Deus pelo batismo. Mesmo assim, por um chamado especial, são consagrados a Deus de um “modo novo”, comprometendo-se a viver com três votos ou promessas:
. na castidade consagrada: consagrando a sua pessoa a Deus somente, no celibato e renunciando, assim, a consagrar-se a uma pessoa humana, no matrimônio:
. na pobreza evangélica: deixando de por sua confiança e esperança nos bens terrenos e pondo-os a serviço dos irmãos;
. na obediência apostólica; renunciando à sua vontade própria, a fim de buscar fazer sempre e em tudo só a vontade de Deus.
A “função” ou “serviço” próprios dos religiosos é mostrar, pelo exemplo, que só o espí-rito das bem-aventuranças do Evangelho é capaz de transformar o mundo (LG 31/777). É também “função” dos religiosos serem “sinal” capaz de atrair e animar os cristãos a cumprir com alegria e dedicação os compromissos da vocação cristã (LG 44/119).
d) A vocação missionária:
É a vocação das pessoas que se ocupam:
. em levar e anunciar Jesus e seu Evangelho onde eles ainda não chegaram;
. em organizar a comunidade eclesial, onde ela ainda não existe.
Quem pode ser missionário? Podem ser missionários tanto os leigos como os ministros ordenados (padres, bispos, diáconos), como também os religiosos e as religiosas.
As quatro grandes vocações na Igreja, quando existem juntas, colaboram, cada uma a seu modo, para o bem de toda a Igreja e para a implantação do Reino de Deus no mundo (veja 1Cor 12).
3. É importante entender que cada uma das quatro grandes vocações contém em si outras vocações, como “subvocações”. Assim:
a) Dentro da vocação aos “ministérios ordenados”, existem três graus de vocação:
. a vocação episcopal (bispo);
. a vocação presbiteral (padre);
. a vocação diaconal (diácono);
(ver Lumen Gentium Cap. III, do Concílio Vaticano II).
b) Dentro da vocação “religiosa”, existem as mais variadas formas de vida religiosa:
. vida contemplativa;
. vida ativa;
. vida mista (contemplativa e ativa);
(ver Perfectae Caritatis, do Concílio Vaticano II).
c) Dentro da vocação “missionária”, existem as mais variadas formas de ser missionário:
. missionários leigos;
. missionários religiosos e religiosas;
. missionários padres;
(ver Ad Gentes, documento do Concílio Vaticano II).
d) Dentro da vocação “laical” existem sobretudo três outras vocações:
. A vocação matrimonial.
Desta vocação nos falam, por exemplo, Jesus (Mt 19,1-12), o apóstolo Paulo (Cor 7) e, ultimamente ainda, o papa João Paulo II, na encíclica “Sobre a Família Cristã) (Familiares Consortium).
Fique claro, portanto, que a vocação matrimonial é uma das modalidades de se viver a vocação laical. É um estado de vida.
. A vocação de consagrados no mundo.
Fala desta vocação o documento do Papa Pio XII que oficializa na Igreja os “institutos seculares”, isto é, as organizações de leigos consagrados, que vivem no mundo, e não em conventos, ou comunidades religiosas. São verdadeiros “leigos”, mas leigos “consagrados”, atuando como cristãos, nos ambientes do mundo, nos quais vivem e trabalham.
. A vocação de solteiros.
São as pessoas que se sentem chamadas a viver como cristãos leigos, não se sentindo chamadas nem para o matrimônio, nem para a vida religiosa e nem para algum ministério ordenado (sacerdócio ou diaconato).
(ver 1Cor 7).