A Oração do Papa
Entrevistador:O que é que o Papa pede na oração?
Resposta do Papa João Paulo II:
As alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje constituem o objeto de oração do Papa.
Evangelho quer dizer boa-notícia, boa-nova, e a Boa-nova é sempre um convite à alegria. O que é o Evangelho? Uma vigorosa afirmação do mundo e do homem, porque é a revelação da verdade sobre Deus. Deus é a primeira fonte de alegria e de esperança do homem.
Evangelho é, antes de mais nada, a alegria da criação. Deus que, ao criar, vê que aquilo que cria é bom (Gn 1,1-25), é fonte de alegria para todas as criaturas, e em sumo grau para o homem. Deus parece estar dizendo ao mundo criado por Ele: "É bom que tu existas!" E esta sua alegria se transmite especialmente mediante a Boa-nova, segundo a qual o bem no mundo é maior que todo mal que nele existe. O mal, com efeito, não é nem fundamental, nem definitivo.
A criação foi entregue e confiada como tarefa ao homem que constitua para ele não uma fonte de sofrimento, mas o fundamento de uma existência criativa no mundo. Um homem quando crê na essencial bondade das criaturas, pode descobrir todos os segredos da criação para continuamente aperfeiçoar a obra que lhe foi confiada por Deus.
Para quem acolhe a Revelação, e em particular o Evangelho, para este deve ficar bem claro que é melhor existir do que não existir. E por isso, no horizonte do Evangelho não há espaço para nenhum nirvana, para nenhuma apatia ou resignação. Há, porém, um grande desafio a aperfeiçoar: aquilo que foi criado (tanto a si mesmo como ao mundo).
Esta alegria essencial da criação é por sua vez completada pela alegria da salvação, pela alegria da redenção. O Evangelho é, antes de tudo, uma imensa alegria pela salvação do homem. O Criador do homem é também o seu Redentor. A salvação não só enfrenta o mal em todas as formas que assume no mundo, mas proclama a vitória sobre o mal: "Eu venci o mundo", diz Cristo (Jo 16,33).
Motivo da nossa alegria é, portanto, possuir a força para vencer o mal e acolher a filiação divina que constitui a essência da Boa-nova. Este poder Deus dá ao homem em Cristo (Jo 3,17). A obra da redenção é a elevação da obra da criação a um novo nível. O que foi criado é perpassado por uma santificação redentora, ou melhor ainda, por uma divinização: o mundo criado é como que atraído para a órbita da divindade e da vida íntima de Deus. Nesta dimensão é derrotada a força destruidora do pecado. "Morte, onde está a tua vitória?", pergunta o Apóstolo com os olhos fitos no Cristo Ressuscitado (1Cor 15,55).
O Papa, testemunha de Cristo e ministro da Boa-nova, é por isso mesmo homem de alegria e homem de esperança, homem desta fundamental afirmação do valor da existência, do valor da criação e da esperança na vida futura. Não se trata nem de alegria ingênua, nem de esperança vã. A alegria da vitória sobre o mal não ofusca a realística consciência da existência do mal no mundo e no homem. Ao contrário, chega a aguçá-la. O Evangelho ensina, segundo Paulo, que "se pode e se deve vencer o mal com o bem" (Rm 12,21).
Se a moral cristã busca com tanta decisão os valores mais altos, se comporta uma tão universal afirmação do bem, nem por isso deixa de ser também extraordinariamente exigente. O Bem, com efeito, não é fácil, é sempre aquele "caminho estreito" de que fala Cristo no Evangelho (Mt 7,14). Portanto, a alegria do bem e a esperança do seu triunfo, no homem e no mundo, não excluem o temor por este bem, pela decepção desta esperança.
Sim, o Papa, como qualquer cristão, deve ter uma consciência clara dos perigos a que está sujeita a vida do homem neste mundo e o seu futuro no tempo, como também o seu futuro final, eterno, escatológico. Mas a consciência desses perigos não gera pessimismo, e sim estimula apenas a lutar pela vitória do bem em todas as dimensões. E é justamente deste combate pela vitória do bem no homem e no mundo que nasce a necessidade de rezar.
A oração do Papa tem uma dimensão particular. A solicitude por todas as Igrejas impõe todo dia ao Pontífice que peregrine pelo mundo inteiro com a oração, com o pensamento e com o coração. Neste sentido, vê-se o Papa chamado a uma oração universal, na qual a solicitude por todas as Igrejas (2Cor 11,28) lhe permite expor diante de Deus todas as alegrias e as esperanças e, ao mesmo tempo, as tristezas e as preocupações que a Igreja compartilha com a humanidade contemporânea.
Poder-se-ia falar igualmente da oração do nosso tempo, da oração do século XX. O ano 2000 assinala uma espécie de desafio. Deve-se contemplar a imensidade do bem que surgiu do mistério da Encarnação do Verbo e, ao mesmo tempo, não esquecer o mistério do pecado, que se expande continuamente. Esta profunda verdade prova o quanto a oração é necessária para o mundo e para a Igreja. Ela constitui o modo mais simples para tornar presente no mundo Deus e seu amor salvador. Deus confiou aos homens sua própria salvação, confiou aos homens a Igreja e, na Igreja, toda a obra salvadora de Cristo. Deus confiou todos a cada um e cada um a todos. Esta retomada de consciência deve encontrar eco na oração da Igreja e do Papa.
A Igreja reza para que, em todo mundo, se cumpra a obra da salvação através de Cristo. Reza para poder, ela mesma, viver constantemente entregue à missão recebida de Deus. Rezam, portanto, a Igreja e o Papa pelas pessoas às quais esta missão deve ser confiada de modo particular, rezam pelas vocações: não apenas sacerdotais e religiosas, mas também pelas muitas vocações à santidade entre o povo de Deus.
A Igreja reza pelos sofredores. O sofrimento, com efeito, é sempre uma grande provação, não só das forças físicas, mas também das espirituais. A verdade paulina sobre a necessidade de "completar os sofrimentos de Cristo" (Cl 1,24) é parte do Evangelho. Mas o homem não pode cruzar o limiar dessa verdade se não for atraído pelo Espírito Santo. A oração pelos sofredores e com os sofredores é, portanto, uma especial parte deste grande grito que a Igreja e o Papa elevam ao Céu com o Cristo. É o grito pela vitória do bem ainda que através do mal, através do sofrimento, através da corrupção e da injustiça humana.
Enfim, a Igreja reza pelos defuntos, e esta oração diz muita coisa sobre a realidade da própria Igreja. Diz que a Igreja permanece em esperança da vida eterna. Ela é uma espécie de luta com a realidade da morte e da destruição, que pesam sobre a existência do homem na Terra. Ela é e sempre será uma particular revelação da Ressurreição.
A oração é procura de Deus, mas é também revelação de Deus. Através da oração Deus Se revela como Criador e Pai, como Redentor e Salvador, como Espírito que "esquadrinha tudo, até as profundezas de Deus" (1Cor 2,10) e, antes de nada, "os segredos dos corações humanos" (Sl 43(44),22). Através da oração Deus se revela, antes de tudo, como Misericórdia, ou seja, Amor que vem ao encontro do homem sofredor, Amor que ampara, soergue, convida à confiança. Um homem que reza professa esta verdade e, em certo sentido, torna presente Deus, que é Amor Misericodioso no seio do mundo.
Evangelho quer dizer boa-notícia, boa-nova, e a Boa-nova é sempre um convite à alegria. O que é o Evangelho? Uma vigorosa afirmação do mundo e do homem, porque é a revelação da verdade sobre Deus. Deus é a primeira fonte de alegria e de esperança do homem.
Evangelho é, antes de mais nada, a alegria da criação. Deus que, ao criar, vê que aquilo que cria é bom (Gn 1,1-25), é fonte de alegria para todas as criaturas, e em sumo grau para o homem. Deus parece estar dizendo ao mundo criado por Ele: "É bom que tu existas!" E esta sua alegria se transmite especialmente mediante a Boa-nova, segundo a qual o bem no mundo é maior que todo mal que nele existe. O mal, com efeito, não é nem fundamental, nem definitivo.
A criação foi entregue e confiada como tarefa ao homem que constitua para ele não uma fonte de sofrimento, mas o fundamento de uma existência criativa no mundo. Um homem quando crê na essencial bondade das criaturas, pode descobrir todos os segredos da criação para continuamente aperfeiçoar a obra que lhe foi confiada por Deus.
Para quem acolhe a Revelação, e em particular o Evangelho, para este deve ficar bem claro que é melhor existir do que não existir. E por isso, no horizonte do Evangelho não há espaço para nenhum nirvana, para nenhuma apatia ou resignação. Há, porém, um grande desafio a aperfeiçoar: aquilo que foi criado (tanto a si mesmo como ao mundo).
Esta alegria essencial da criação é por sua vez completada pela alegria da salvação, pela alegria da redenção. O Evangelho é, antes de tudo, uma imensa alegria pela salvação do homem. O Criador do homem é também o seu Redentor. A salvação não só enfrenta o mal em todas as formas que assume no mundo, mas proclama a vitória sobre o mal: "Eu venci o mundo", diz Cristo (Jo 16,33).
Motivo da nossa alegria é, portanto, possuir a força para vencer o mal e acolher a filiação divina que constitui a essência da Boa-nova. Este poder Deus dá ao homem em Cristo (Jo 3,17). A obra da redenção é a elevação da obra da criação a um novo nível. O que foi criado é perpassado por uma santificação redentora, ou melhor ainda, por uma divinização: o mundo criado é como que atraído para a órbita da divindade e da vida íntima de Deus. Nesta dimensão é derrotada a força destruidora do pecado. "Morte, onde está a tua vitória?", pergunta o Apóstolo com os olhos fitos no Cristo Ressuscitado (1Cor 15,55).
O Papa, testemunha de Cristo e ministro da Boa-nova, é por isso mesmo homem de alegria e homem de esperança, homem desta fundamental afirmação do valor da existência, do valor da criação e da esperança na vida futura. Não se trata nem de alegria ingênua, nem de esperança vã. A alegria da vitória sobre o mal não ofusca a realística consciência da existência do mal no mundo e no homem. Ao contrário, chega a aguçá-la. O Evangelho ensina, segundo Paulo, que "se pode e se deve vencer o mal com o bem" (Rm 12,21).
Se a moral cristã busca com tanta decisão os valores mais altos, se comporta uma tão universal afirmação do bem, nem por isso deixa de ser também extraordinariamente exigente. O Bem, com efeito, não é fácil, é sempre aquele "caminho estreito" de que fala Cristo no Evangelho (Mt 7,14). Portanto, a alegria do bem e a esperança do seu triunfo, no homem e no mundo, não excluem o temor por este bem, pela decepção desta esperança.
Sim, o Papa, como qualquer cristão, deve ter uma consciência clara dos perigos a que está sujeita a vida do homem neste mundo e o seu futuro no tempo, como também o seu futuro final, eterno, escatológico. Mas a consciência desses perigos não gera pessimismo, e sim estimula apenas a lutar pela vitória do bem em todas as dimensões. E é justamente deste combate pela vitória do bem no homem e no mundo que nasce a necessidade de rezar.
A oração do Papa tem uma dimensão particular. A solicitude por todas as Igrejas impõe todo dia ao Pontífice que peregrine pelo mundo inteiro com a oração, com o pensamento e com o coração. Neste sentido, vê-se o Papa chamado a uma oração universal, na qual a solicitude por todas as Igrejas (2Cor 11,28) lhe permite expor diante de Deus todas as alegrias e as esperanças e, ao mesmo tempo, as tristezas e as preocupações que a Igreja compartilha com a humanidade contemporânea.
Poder-se-ia falar igualmente da oração do nosso tempo, da oração do século XX. O ano 2000 assinala uma espécie de desafio. Deve-se contemplar a imensidade do bem que surgiu do mistério da Encarnação do Verbo e, ao mesmo tempo, não esquecer o mistério do pecado, que se expande continuamente. Esta profunda verdade prova o quanto a oração é necessária para o mundo e para a Igreja. Ela constitui o modo mais simples para tornar presente no mundo Deus e seu amor salvador. Deus confiou aos homens sua própria salvação, confiou aos homens a Igreja e, na Igreja, toda a obra salvadora de Cristo. Deus confiou todos a cada um e cada um a todos. Esta retomada de consciência deve encontrar eco na oração da Igreja e do Papa.
A Igreja reza para que, em todo mundo, se cumpra a obra da salvação através de Cristo. Reza para poder, ela mesma, viver constantemente entregue à missão recebida de Deus. Rezam, portanto, a Igreja e o Papa pelas pessoas às quais esta missão deve ser confiada de modo particular, rezam pelas vocações: não apenas sacerdotais e religiosas, mas também pelas muitas vocações à santidade entre o povo de Deus.
A Igreja reza pelos sofredores. O sofrimento, com efeito, é sempre uma grande provação, não só das forças físicas, mas também das espirituais. A verdade paulina sobre a necessidade de "completar os sofrimentos de Cristo" (Cl 1,24) é parte do Evangelho. Mas o homem não pode cruzar o limiar dessa verdade se não for atraído pelo Espírito Santo. A oração pelos sofredores e com os sofredores é, portanto, uma especial parte deste grande grito que a Igreja e o Papa elevam ao Céu com o Cristo. É o grito pela vitória do bem ainda que através do mal, através do sofrimento, através da corrupção e da injustiça humana.
Enfim, a Igreja reza pelos defuntos, e esta oração diz muita coisa sobre a realidade da própria Igreja. Diz que a Igreja permanece em esperança da vida eterna. Ela é uma espécie de luta com a realidade da morte e da destruição, que pesam sobre a existência do homem na Terra. Ela é e sempre será uma particular revelação da Ressurreição.
A oração é procura de Deus, mas é também revelação de Deus. Através da oração Deus Se revela como Criador e Pai, como Redentor e Salvador, como Espírito que "esquadrinha tudo, até as profundezas de Deus" (1Cor 2,10) e, antes de nada, "os segredos dos corações humanos" (Sl 43(44),22). Através da oração Deus se revela, antes de tudo, como Misericórdia, ou seja, Amor que vem ao encontro do homem sofredor, Amor que ampara, soergue, convida à confiança. Um homem que reza professa esta verdade e, em certo sentido, torna presente Deus, que é Amor Misericodioso no seio do mundo.
João Paulo II Livro: Cruzando o Limiar da Esperança
Uma entrevista com o Papa João Paulo II
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